Vamos à Farmácia | A Depressão na Terceira Idade

Vamos à Farmácia | Ana Quintela

 

A Depressão na Terceira Idade

Este mês de Abril, o tema escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para comemorar o Dia Mundial da Saúde, 7 de Abril, é a “Depressão: Vamos Falar” (“Depression: Let’s Talk”). E como os profissionais de saúde como eu que trabalham em Farmácia Comunitária lidam todos os dias com a depressão na terceira idade, esta semana decidi chamar a atenção para o tema.

É importante encarar a depressão como uma doença que requer apoio e tratamento. É uma doença que se caracteriza por uma tristeza permanente e persistente, uma baixa de auto-estima, perda de interesse em actividades que anteriormente dariam satisfação e é comum estar também associada a transtornos de ansiedade. No entanto, a depressão na terceira idade, embora comum, é frequentemente ignorada, nem sempre sendo tratada.

 

Há doenças que podem potenciar a depressão no idoso?

Para um idoso que nunca sofreu de depressão, a depressão na terceira idade está habitualmente relacionada com eventos da vida difíceis, com a perda de familiares ou com alterações na sua condição física. A depressão no idoso é muito potenciada pela perda do controlo na sua vida, agravada com a solidão e em alguns casos também por factores económicos menos favoráveis.

Algumas doenças crónicas estão muito relacionadas com o aparecimento da depressão pelo facto de serem incapacitantes, dolorosas e algumas por provocarem determinadas alterações hormonais. Abaixo encontram-se alguns exemplos:

 

  • AVC
  • Cancro
  • Diabetes
  • Doença de Parkinson
  • Doenças Cardíacas
  • Doenças da tiroide
  • Esclerose Múltipla
  • Lúpus

 

Quais são os sintomas mais comuns da depressão na terceira idade?

Quando se trata de depressão na terceira idade, pode acontecer que alguns sintomas sejam atribuídos a outras doenças físicas ou a efeitos secundários que advém da toma de diversos medicamentos. É portanto essencial que os familiares e os prestadores de cuidados próximos do idoso estejam atentos a determinados sintomas e alterações no comportamento.

Se desconfiamos de depressão no idoso, os sintomas que verificamos mais rapidamente são uma súbita perda de energia, tristeza, ansiedade, desânimo e a perda de interesse pela vida e por algumas actividades que antes permitiam diversão.

Para além do cansaço e da falta de energia, a depressão no idoso provoca muitas outras alterações físicas, como por exemplo a insónia, alterações no apetite com aumento ou diminuição de peso, disfunções gastrointestinais ou até mesmo a existência de dor sem explicação.

No idoso, a depressão origina dificuldade de concentração, fortes sentimentos de inutilidade, de culpa, diminuição da auto-estima, negligência da higiene pessoal, constante fixação na morte e até mesmo pensamentos de suicídio. É uma doença que se não for tratada acaba por levar a um grave isolamento social.

 

É demência ou é depressão?

Esta questão surge frequentemente, uma vez que os sintomas são semelhantes e por isso é tão importante o acompanhamento médico nesta situação. Normalmente o idoso com depressão não está confuso, sabe onde se encontra e em que dia está. Tem dificuldade de concentração, mas que não acompanha perda de memória a curto prazo, como acontece em estados de demência. As capacidades psicomotoras, a fala, a escrita podem estar mais lentas, mas adequam-se à idade.

 

 

Que tratamentos existem?

Para tratar a depressão no idoso existem diversas opções farmacológicas, mas a medicação sozinha normalmente não resolve a situação. É também necessário abordar outros aspectos da vida.

Conjugar a toma de medicação com psicoterapia pode ser muito útil. Manter hábitos de sono regulares e uma alimentação correcta pode também fazer a diferença quando se trata uma depressão.

Sair de casa, apanhar sol, manter alguma actividade social e ter um papel na comunidade é fulcral para o bem-estar mental. Na farmácia é comum apercebermo-nos de idosos que se isolam em casa, acabando por se movimentar de cada vez menos. É muito importante manter a actividade física na terceira idade. Os idosos que fazem exercício físico, mesmo apenas uma simples caminhada, acabam por ser menos propensos à depressão. Apercebemo-nos também que os idosos com animais de estimação conseguem manter-se mais activos tendo uma maior estabilidade emocional.

 

Familiares – o que podem fazer para ajudar?

Como familiar ou prestador de cuidados deve fazer um esforço por respeitar as diferenças e consciencializar-se que na terceira idade existem de facto algumas limitações físicas, bem como uma maior dificuldade de adaptação e mudança de hábitos. Tenha em atenção que é perfeitamente natural que não seja capaz de intervir correctamente, pelo que será conveniente nestas situações procurar a ajuda médica.

Seja consciente e saiba quando aconselhar o idoso a procurar ajuda médica. Como familiar, é importante perceber que a ajuda de profissionais de saúde na área da saúde mental é sempre útil, visto que não só ajuda directamente o idoso, como também o permite a si aprender estratégias para lidar com determinados problemas que vão surgindo.

Na farmácia verificamos que ser compreensivo e capaz de simplesmente despender de algum tempo para ouvir o idoso já ajuda bastante. Seja paciente, a depressão é uma doença que assim o exige. Ofereça sempre apoio e afecto.

 

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